Proveniência da formação Içá e de sedimentos do rio Solimões, entre os municípios de Tefé e Manacapuru, Amazonas

Abstract

A análise de minerais pesados transparentes em arenitos e areias recentes da porção centro leste da Bacia do Solimões, ao longo do rio homônimo, região entre Tefé e Manacapuru – Amazonas diferenciou claramente os depósitos da Formação Içá, bem como os sedimentos recentes do rio Solimões. As assembléias minerais descritas foram zircão, turmalina, rutilo, anatásio, cianita, sillimanita, andalusita, estaurolita, granada, monazita, epidoto, mica, piroxênio e anfibólio, enquanto titanita, brookita e olivina ocorrem como traços. O estudo morfológico do zircão mostrou a existência de treze tipos na porção inferior e onze na porção superior da Formação Içá, bem como quatorze nos sedimentos recentes do rio Solimões. Os tipos D, S12 e S13 são abundantes e comuns nas duas unidades, enquanto S2, S8 e S24 restringem-se à porção inferior e P4 e S18 são restritos à porção superior da Formação Içá, enquanto I, S3, S17 e S22 ocorrem apenas nos sedimentos recentes do rio Solimões. Todos estes tipos bem como os demais citados no estudo morfológico reportam a granitos alcalinos, calci-alcalinos, granitos toleíticos, charnoquitos, monzonitos e granodioritos. Por outro lado às variedades mineralógicas como uvita e dravita (turmalina), espessartita, knorringita e almandina (granada), enstatita e ferrosilita (piroxênio), crossita e tirodita (anfibólio), mukhinita (epidoto), biotita e anandita (mica), também mostraram que nas unidades estudadas além de rochas ígneas, há participação de fontes metamórficas, bem como sedimentos da própria Bacia do Solimões e possivelmente da Bacia do Acre. De outro modo a contribuição metamórfica fica evidente a partir dos teores de polimorfos de Al2SiO5. Destes em particular a andalusita se mostrou um importante indicador mineralógico para os depósitos da porção inferior da Formação Içá, enquanto a porção superior detém altos teores de mica (biotita e anandita). Além dos dados de variedades mineralógicas e morfologia de zircão os fragmentos de rocha confirmam a contribuição de biotita granito (fonte ígnea), gnaisse, quartzito, filito, mica-xisto (fonte metamórfica), quartzoarenito, argilito (fonte sedimentar), arenito cimentado por gohetita e fragmentos ferruginosos (depósitos lateritizados). Estes dados associado às análises depaleocorrentes mostram que o fluxo de siliciclásticos proveio de oeste para leste da Bacia do Solimões. Os dados apresentados permitem atribuir para a Formação Içá fonte ígnea e metamórfica associada ao escudo cristalino brasileiro e suas províncias geocronológicas, enquanto os sedimentos recentes são supridos principalmente por fontes andinas, bem como retrabalhamento das unidades neógenas da Bacia do Solimões e possivelmente da Bacia do Acre. A presença de um limite entre as Formações Solimões e Içá, marcado por andalusita e mica é um fato nunca antes registrado na literatura referente ao Neógeno da Amazônia Ocidental